Olá meus fantasminhas!
Quantas pessoas não suspiram só de pensar em seus escritos? Pois é, William Shakespeare é definitivamente um marco na literatura, não só britânica, mas mundial. Além de ter criado um terço da língua inglesa, Shakespeare também ganhou fama por ser um escritor que passa uma imagem de eterno romântico, mas analisando os originais podemos ver outra faceta desse autor, uma faceta bem safada.
Antes de tudo, devemos levar em conta que nossa leitura de Shakespeare geralmente é feita em português e na escola, com professores monitorando cada verso. Tanto isso quanto a linguagem rebuscada de Sir William acaba por nos deixar cegos diante de um grande número de referências picantes um tanto quanto inesperadas.
Confira as cinco piadas sexuais que você nunca reparou ao ler Shakespeare (porque provavelmente sua professora fez uma belíssima cara de poker em tais passagens):
1- Romeu e Julieta: Mercúcio, o camarada que dá conselhos sobre “traseira aberta”
Romeu e Julieta é uma das peças mais famosas de Shakespeare, além de ser mundialmente a mais mal interpretada, visto que aparentemente as pessoas ignoram o fato de Julieta ter apenas 13 anos e Romeu 17. Mas tudo bem, afinal, a peça foi escrita aproximadamente no ano 1593, e isso abre espaço para as diferenças em relação a cultura da época, mas mesmo assim não podemos deixar de lado que o romance deles acontece por questões hormonais e porque proibido é mais gostoso, com a exata duração de cinco dias, resultando num suicídio mútuo. E aí todos os leitores suspiram em meio às lagrimas. Ah, o amor é lindo certo? Certo, mas quem acha que Romeu e Julieta é uma história de amor precisa urgentemente reler.
Mercúcio, ao ver que Romeu está um caco, carente e novamente apaixonado, decide um conselho ao amigo. No poema original em inglês:
“If love be blind, love cannot hit the mark.
Now will he sit under a medlar tree
And wish his mistress were that kind of fruit
As maids call medlars when they laugh alone.
O Romeo, that she were!
Oh, that she were
An open arse, and thou a poperin pear”
Em uma das traduções originais podemos ver como quase se perde o sentido se você não estiver atento:
“Se o amor é cego, nunca acerta no alvo. Agora vai sentar-se sob a fronde de um nespereiro, a desejar que a amada fosse a fruta que as jovens chamam nêspera, quando riem sozinhas.
Ó Romeu! Se ela fosse um “Et cetera”, realmente, bem aberto, e tu, pêra açucarada!”
“Um et cetera bem aberto”, tradutor, eu vi o que você fez ai!
Acho que já entenderam o ponto, mas a tradução literal é definitivamente o que deixa explícito:
“O Romeo, que ela fosse! Oh, que ela fosse uma bunda aberta, e tu um poperin pêra”
E aí vem minha parte favorita: não existe a expressão “poperin”, sendo na verdade um jogo de palavras. Separando suas sílabas podemos chegar mais perto do sentido desejado por Shakespeare: Pop ‘er in, que seria no português penetrar.
Pois é, no fim Mercúcio na verdade está dizendo:
“O que você precisa, meu amigo, é de uma garota que faz anal.”
2- A Megera Domada: Brincadeiras lúdicas sobre sexo oral
Em A Megera Domada, aquela peça que deu origem ao filme “10 coisas que odeio em você” com o poema que cita exatamente 10 coisas que a mocinha odeia no mocinho, fazendo todo mundo chorar enquanto se entope de chocolate, Petruchio está tentando conquistar o coração congelado de Catarina, para que seu pai permita com que sua irmã caçula se case.
Para a alegria de todos os leitores atentos, o método preferido de flerte de Petruchio é envolver Catarina num jogo de palavras sexual, enquanto só falta balançar as sobrancelhas charmosamente a la Groucho Marx (quem conseguiria resistir, não é mesmo?).
No original em Inglês:
PETRUCHIO: Come, come, you wasp, i’faith you are too angry.
KATHERINE: If I be waspish, best beware my sting.
PETRUCHIO: My remedy is then to pluck it out.
KATHERINE: Ay, if the fool could find where it lies.
PETRUCHIO: Who knows not where a wasp does wear his sting? In his tail.
KATHERINE: In his tongue.
PETRUCHIO: Whose tongue?
KATHERINE: Yours, if you talk of tales, and so farewell.
PETRUCHIO: What, with my tongue in your tail?
Na tradução original podemos ver que decidiram suavizar o impacto, deixando a palavra tail (no português: rabo) de lado:
PETRUCHIO: Vamos, vespa; ferina sois bastante.
CATARINA: Sendo eu vespa, cuidado com o ferrão.
PETRUCHIO: Há remédio para isso: arranco-o logo.
Catarina: Sim, no caso de o tolo vir a achá-lo.
PETRUCHIO: Quem não sabe onde as vespas o têm sempre? No corpinho.
CATARINA: Na língua.
PETRUCHIO: Como! Língua? Língua de quem?
CATARINA: Na vossa, se em corpinho vindes falar-me. Adeus.
PETRUCHIO: Como! Com minha língua em vosso corpinho?
Um bom ponto a ser levantado é que nos tempos de Shakespeare, “tail” (rabo) era linguajar das ruas que significava “vulva”. Então, na realidade, Petruchio está sendo realmente escrachado ao dizer “com minha língua em vossa vulva”.
3- Venus & Adonis: Vênus dá sinal verde para Adônis ir para suas partes baixas
Além de escrever peças, Shakespeare também gostava de escrever poemas, como é de conhecimento geral, e neles, claro, também misturava insinuações sexuais inesperadas em meio ao linguajar rebuscado das rimas.
Seu poema Vênus & Adonis, sobre a deusa da beleza se apaixonando pelo cara mais sexy das galáxias (basicamente), se parece mais com uma novela erótica do que algo que você encontraria num livro literário, principalmente shakespeareano. Para dar um pequeno exemplo, confira esses versos de Vênus falando com Adonis:
Em inglês:
Graze on my lips, and if those hills be dry
Stray lower, where the pleasant fountains lie.
Traduzindo temos:
Paste em meus lábios, e se tal colina seca
Vá para baixo, onde a fonte do prazer fica
Você entendeu certo, Vênus está dizendo: “Qualquer coisa pode fazer um oral, ok?”
4- Hamlet: Hamlet se aproveitando da educação de Ophelia
Hamlet, um personagem amargo, decide matar, literalmente, todo mundo ao seu redor depois de ficar maluco por ser assombrado pelo fantasma do pai, que foi assassinado pelo seu tio, que agora é casado com sua mãe. Esse plot seria digno de novela mexicana, se não fosse bem mais profundo que isso, e quem leu a peça, sabe do que estou falando.
Mas no meio disso tudo, Hamlet tem Ophelia, que seria sua namorada se ele não fosse tão vil com a pobre coitada. Ele é tão nojento com ela que simplesmente faz Ophelia ficar maluca, e spoiler alert, sim, ela acaba se matando por isso (spoiler alert de novo: e também porque Hamlet naquela onda de matar todo mundo, mata também o pai dela).
Só que antes disso tudo ainda tem aqueles momentos em que Hamlet se diverte conversando com a menina, onde acaba insultando, desrespeitando e tentando quebrar qualquer vestígio que ela tem de honra. O problema é que Ophelia tem noção de sua posição social, e Hamlet é o príncipe, então ela tenta responder as propostas indecentes de Hamlet de forma cortês, ou seria na inocência?
HAMLET: Lady, shall I lie in your lap?
OPHELIA: No, my lord.
HAMLET: I mean, my head upon your lap.
OPHELIA: Ay, my lord.
HAMLET: Do you think I meant country matters?
OPHELIA: I think nothing, my lord.
HAMLET: That’s a fair thought to lie between maid’s legs.
OPHELIA: What is, my lord?
HAMLET: Nothing.
Na tradução temos uma mudança brusca do significado, primeiro porque “lap” significa “colo”, e na versão original Hamlet insiste pelo colo, já traduzido podemos ver:
HAMLET: Ser-me-ia permitido estar a vossos pés, Senhora?
OPHELIA: Não, meu Senhor.
HAMLET: Queria dizer, recostar a cabeça sobre vossos joelhos.
OPHELIA: Sim, meu Senhor.
HAMLET: Pensastes talvez que tivesse outra ideia?
OPHELIA: Nada pensava.
HAMLET: É um pensamento este digno de um coração de donzela.
OPHELIA: O que, meu Senhor?
HAMLET: Nada.
“É um pensamento este digno de um coração de donzela”, o que diabos esse tradutor tinha em mente? Com todo o respeito, mas isso é a última coisa que Shakespeare quis dizer com
“That’s a fair thought to lie between maid’s legs.” que numa tradução literal quer dizer “
É um pensamento justo deitar-se entre as pernas de uma mulher”.
Segue-se uma tradução mais ao pé da letra:
HAMLET: Senhora, eu devo recostar no seu colo?
OPHELIA: Não, meu senhor.
HAMLET: Quero dizer, minha cabeça sobre o seu colo.
OPHELIA: Ai, meu senhor.
HAMLET: Você acha que eu quis dizer
“questões de país”?
OPHELIA: Não acho nada, meu senhor.
HAMLET: É um pensamento justo deitar entre as pernas de mulher.
OPHELIA: O que é, meu senhor?
HAMLET: Nada.
OBS:
“questões de país” é novamente um joguete de palavras que Shakespeare usa, neste caso
“country matters” era uma expressão muito comum antigamente, mas veja bem, estamos falando de Hamlet bancando o esperto para cima de Ophelia, o “country” tem a sonoridade de “cunt” que significa vagina. Shakespeare fez de novo.
5 – Soneto 151: Shakespeare “transforma” sua ereção em poesia
Os sonetos nos séculos 13 e 14 foram odes curtos para mulheres, a julgar pela poesia, maravilhosas. Quando Shakespeare estava no auge decidiu também escrever sonetos, e de fato escreveu vários, sobre seu amor por belíssimas mulheres. No entanto, não foram só as mulheres que ganharam essa homage, o soneto 151 de Shakespeare fala na verdade de uma ereção que o autor teve em nome de uma mulher:
My soul doth tell my body that he may
Triumph in love: flesh stays no further reason
But rising at thy name doth point out thee
As his triumphant prize.
Numa tradução literal:
Minha alma pode dizer ao meu corpo que ele pode
Triunfar no amor: a carne fica sem nenhuma razão
Mas subindo em teu nome, acaso aponto para ti
Com seu prêmio triunfante.
O que Shakespeare quis dizer? Bem, ele diz da forma mais rebuscada possível que “seu corpo” sobe ao som do nome de uma mulher. Ou seja, que uma mulher o deixa completamente ereto, e o mais engraçado é que não para por aí, o fim do poema também deixa esse ar de ambiguidade para os mais atentos.
O Soneto 151 deixa bem claro que naquele dia, Shakespeare, independente dos rumores sobre sua orientação sexual, queria mergulhar a pena no tinteiro de alguma donzela.
Espero que tenham gostado
CarinaFilth